Coletânea:
Texto 1
A nova lei de trânsito, em vigor desde 20 de junho, proíbe que as pessoas bebam e dirijam. A tolerância para o teor de álcool no organismo é tão baixa – 0,2 gramas por litro de sangue ou 0,1 miligrama por litro de ar expelido dos pulmões – que equivale, na prática, a uma lei seca para os motoristas. Flagrado acima do limite de 0,1 miligrama, o cidadão recebe uma multa de R$ 955 e perde o direito de guiar por um ano. Se o bafômetro chegar a 0,3 miligrama – ou o exame de sangue a 0,6 - , ele é detido, processado e pode pegar uma pena de seis meses a três anos de prisão.nunca se viu nada assim no Brasil. Repentinamente, beber e dirigir virou crime.
Texto 2
“Sou a favor da lei, já vi as barbaridades que os bêbados fazem ao volante, mas a polícia devia ser mais flexível”, diz Ronaldo Pimentel, comerciante paulistano de 27 anos que foi flagrado com 0,19 miligrama no bafômetro. Ronaldo tomou uma lata de cerveja às 7 horas da noite e foi parado pela polícia por volta de 1 hora da manhã. O policial que o testou percebeu que ele estava sóbrio e não recolheu sua carteira de habilitação, porém lavrou uma multa e o impediu de voltar para casa dirigindo.
Texto 3
“O combate à violência no trânsito tem de começar em algum ponto, e o ponto perfeito é impedir que alguém que bebeu dirija. É simples e necessário” Diz o antropólogo carioca Roberto DaMatta.
Texto 4
Ao contrário dos cidadãos europeus e americanos, submetidos há décadas à dura disciplina do bafômetro, os brasileiros estão acostumados a desfrutar do álcool sem abrir mão do automóvel.
Texto 5
Embora a lei seja necessária, ainda há divergências quanto a sua aplicação. Os sindicatos de bares e restaurantes se preparam para pedir na Justiça que a lei seja amenizada. A ordem dos Advogados do Brasil diz que vai ao Supremo Tribunal Federal pelo direito de as pessoas se recusarem a soprar o bafômetro.
Texto 6
“Aprendemos que a lei tem de ser dura, mas sozinha ela não funciona”, afirma José Ucles, porta-voz do Departamento de Trânsito dos EUA. “Tem de haver uma combinação de educação, divulgação e fiscalização”. Aqui no Brasil a fiscalização está só começando, e as campanhas de educação ainda não apareceram.
Fonte: Revista Época – 7 de julho de 2008