A Narrativa
Narrar é contar uma história (real ou fictícia). o fato narrado apresenta uma seqüência de ações envolvendo personagens no tempo e no espaço. convencionalmente, o enredo da narração pode ser assim estruturado: exposição (apresentação das personagens e/ou do cenário e/ou da época), desenvolvimento(desenrolar dos fatos apresentando complicação e clímax) e desfecho (arremate da trama). Entretanto, há diferentes formas de se compor uma trama, seja iniciá-la pelo desfecho, construí-la apenas através de diálogos, ou mesmo fugir ao nexo lógico de episódios.
Veja no texto abaixo todas os elementos básicos de uma narrativa, os mesmos estão separados por diferentes cores e no final há uma legenda explicativa:
Um homem de consciência
Chamava João Teodoro, só. O mais pacato e modesto dos homens. Honestíssimo e lelíssimo, com um defeito apenas: não dar o mínimo valor a si próprio. para João Teodoro, a coisa de menos importância no mundo era João Teodoro.
Nunca fora nada na vida, nem admitia a hipóstese de vir a ser alguma coisa. E por muito tempo não quis nem saber o que todos ali queriam: mudar-se para terra melhor.
Mas João Teodoro acompanhava com aperto no coração o deperecimento visível de sua Itoaca (1).
_ Isto já foi muito melhor, dizia consigo. Já teve três médicos bem bons - agora só um e bem ruinzote. já teve seis advogados e hoje mal há serviço para um rábula ordinário como Tenório. nem circo de cavalinhos bate mais por aqui. A gente que presta se muda. Fica o restolho. Decididamente, a minha Itoaca está se acabando...
João Teodoro entrou a incubar a idéia de também mudar-se, mas para isso necessitava dum fato qualquer que o convencesse de maneira absoluta de que Itoaca não tinha mesmo conserto ou arranjo possível.
_ É isso, deliberou lá por dentro. Quando eu verificar que tudo está perdido, que itoaca não vale mais nada de nada de nada, então arrumo a trouxa e boto-me fora daqui.
Um dia (2), aconteceu a grande novidade: a nomeação de João Teodoro para delegado (3). Nosso homem recebeu a notícia (3) como se fosse uma porretada no crãnio. Delegado, ele! Ele que não era nada, nunca fora nada, não queria ser nada, não se julgava capaz de nada...
Ser delegado numa cidadezinha daquelas é coisa sriíssima. Não há cargo mais importante. É o homem que prende os outros, que solta, que manda dar sovas, que vai à capital falar com o governo. uma coisa colossal ser delegado - e estava ele, João Teodoro, de-le-ga-do de Itoada!...
João Teodoro caiu em meditação profunda (3). passou a noite (2) em claro, pensando e arrumando as malas (3). Pela madrugada (3) botou-as num burro (3), montou seu cavalo magro e partiu.
_Que é isso, João? para onde se atira tão cedo, assim de armas e bagagens?
_ Vou-me embora, respondeu o retirante. Verifiquei que itoaca chegou mesmo ao fim.
_ Mas, como? Agora que você está delegado?
_ Justamente por isso, terra em que João Teodoro chegou a delegado, eu não moro. Adeus.
E sumiu(3).
Monteiro Lobato
1- Espaço
2- Tempo
3- Ação
Legenda explicativa:
Rosa: Exposição
Vermelho: Desenvolvimento - Parte em negrito: complicação
Azul: Desfecho
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